Giancarlo Polesello
Bruno Gonçalves Schröder e Souza
Vanessa Resende
O quadril e a coxa dos atletas foram bastante afetados pelo aumento generalizado da atividade física como competição. O quadril, sendo articulação profunda e cercada de grandes músculos, tecidos, nervos e vasos tem grande quantidade de estruturas expostas à lesão. A coxa, local de origem e inserção dos maiores músculos do corpo humano também.
A maior parte das lesões nos atletas são extra-articulares e podem ocorrer de forma aguda, crônica ou ser provocada por afecções de outras localidades e que provocam sintomas no quadril e na coxa.
Sendo assim, para fins didáticos, dividimos as lesões naquelas do quadril, que podem ser subdivididas em intra e extra-articulares e lesões da coxa, que podem ser subdivididas em lesões agudas e crônicas. Somente os pontos-chave para o conhecimento básico das principais afecções serão destacados.
a) LESÕES NA COXA EM ATLETAS
• Lesões da coxa em atletas são mais freqüentes que as lesões em torno do quadril. A mais comum é a contusão.
• Subdividem-se em agudas ou crônicas. As agudas podem ser: lesões musculares, contusões, avulsões ósseas e lesões apofisárias ou fraturas.
• As crônicas mais comuns são: herniações musculares, pubalgia, síndrome compartimental crônica e fratura por estresse.
1- Lesões agudas:
1.1- Lesões musculares
• Mais freqüentes em músculos biarticulares durante sua contração excêntrica.
• Acometem freqüentemente a junção mio-tendínea, mas podem ocorrer no ventre muscular.
• Fortalecimento muscular, sempre considerando a relação apropriada agonistas-antagonistas, alongamentos e aquecimento apropriado são importantes componentes da prevenção. Muitas dessas lesões ocorrem precocemente nas temporadas.
• Podem ser graduadas em:
Grau I: Estiramento. Apresentam tensão na região posterior da coxa, capacidade para deambulação, entretanto com desconforto. Estiramento passivo do músculo não produzirá muita dor.
Grau II: Ruptura parcial. Episódios súbitos ocasionais de dor durante a atividade, edema visível e equimose, dor à palpação, dor ao estiramento contra resistência podendo limitar a amplitude de movimento das articulações adjacentes.
Grau III: Ruptura Total. Dificuldade para marcha, sendo necessário uso de muletas, dor importante principalmente durante a mobilização do joelho, edema visível importante e equimose, normalmente instantâneos. Presença de defeito palpável e deficiência de força muscular.
• Os músculos mais freqüentemente acometidos são os adutores, reto femoral, iliopsoas e isquiotibiais.
• Lesões dos isquiotibiais
– Os músculos da região posterior da coxa são biarticulares.
– Na corrida os isquiotibiais contraem-se rapidamente para desaceleração da tíbia na extensão do joelho (fase excêntrica) em seguida antes do contato com o solo inicia-se a contração concêntrica com alongamento máximo das fibras musculares (fase concêntrica). Nesse momento ocorre a maioria das lesões, principalmente do bíceps femoral.
– O ventre muscular é a região mais acometida. Pode haver avulsão na tuberosidade isquiática.
– Fatores de risco para essas lesões incluem: maior idade, lesão muscular prévia, radiculopatia L5-S1 (com fraqueza e encurtamento dos isquiotibiais) fadiga muscular e inaptidão física (levando a incoordenação das duas porções do bíceps que possuem inervação distinta).
• Lesões do iliopsoas
– Dor anterior no quadril. Podem ser acompanhadas de edema considerável.
– Paralisia do nervo femoral pode ocorrer.
– Comuns em jogadores de futebol quando o movimento do chute é bloqueado com o quadril ainda iniciando o movimento de flexão (flexão ativa contra resistência abrupta). Outro mecanismo de lesão é a hiper-extensão passiva do quadril (sobrecarga excêntrica).
– Radiografias da bacia podem diagnosticar avulsão do trocânter menor.
• Lesões do reto femoral
– Freqüentemente dor localizada 8 a 10 cm. abaixo a espinha ilíaca ântero-superior.
– Resulta de movimentos concêntricos em explosão na flexão do quadril, como na largada de uma corrida de curta distância ou na contração excêntrica com o quadril estendido, como em um chute em partida de futebol
• Lesões dos adutores:
– Frequentes em jogadores de futebol e hockey;
– Dor e edema na face medial da coxa podem ser de intensidade variável;
– Avaliação objetiva da perda de força pode não ser possível por causa da dor;
– Radiografias da bacia são essenciais para descartar avulsões ósseas;
– A ressonância magnética ajuda a classificar a lesão e avaliar o prognostico (pior em lesões com área maior que 50% do músculo, na presença de coleções líquidas e em lesões musculares profundas).
• Tratamento clínico é o mais indicado. Inicialmente visa o controle da dor e do edema com analgésicos e relaxantes musculares, crioterapia, faixas compressivas e repouso. O uso de AINH deve ser racional.
• A reabilitação deve ser precoce visando recuperar a amplitude de movimentos, fortalecimento muscular, reequilibrio muscular, pliometria, treinamento do gesto esportivo e propriocepção.
• Retorno ao esporte só deve ser permitido na ausência de dor. Devemos lembrar que a recorrência da lesão pode ser mais grave com tempo de recuperação mais prolongado.
• Tratamento cirúrgico pode ser indicado em lesões do grau III com grande separação entre as fibras musculares, em casos selecionados.
1.2 – Contusões
• Ocorrem por trauma direto em esportes de contato ou após quedas.
• Pode ocorrer hemorragia subcutânea, intra-muscular ou subperiosteal.
• Geralmente tem rápida resolução, mas podem evoluir com complicações como limitação da mobilidade, miosite ossificante e síndrome compartimental.
• O tratamento precoce visa abreviar o tempo de recuperação e prevenir as complicações.
• Tratamento inicial deve incluir crioterapia, repouso, imobilização (em flexão do joelho em casos de contusão anterior na coxa), elevação do membro.
• Carga parcial é mantida até o retorno do controle do quadríceps e movimento indolor até 90 graus de flexão do joelho.
• Reabilitação funcional e retorno ao esporte é iniciado quando houver capacidade de fletir o joelho mais que 120 graus na ausência de hipotrofia muscular.
• Retorno total ao esporte quando a houver força e a amplitude de movimento normais, geralmente após 3 semanas.
• Esvaziamento do hematoma pode ser indicado em grandes coleções.
1.3 – Avulsões ósseas e lesões apofisárias:
• Avulsões podem ocorrer na tuberosidade isquiática (“Hurdles`s fractures”), espinhas ilíacas anteriores, trocanter menor, trocanter maior e púbis (Cheerleader´s fracture).
• São mais comuns em atletas com esqueletos imaturos, nos quais ocorre a avulsão da apófise.
• Dor localizada e edema chamam a atenção para o diagnóstico. Mecanismo de trauma geralmente é compatível e o paciente mantém posição antálgica de relaxamento do músculo envolvido.
• Ocorrem por contração muscular vigorosa, normalmente excêntrica.
• Radiografias são diagnosticas e alto índice de suspeição é necessário em pacientes com fises abertas. A comparação com o lado contra-lateral pode ser útil.
• Em pacientes jovens o periósteo espesso geralmente limita graves desvios.
• Fragmentos grandes, desviados mais que 2 centímetros são passiveis de tratamento cirúrgico com osteosíntese.
• Todos os demais casos devem ser tratados conservadoramente. Posicionamento confortável para controle da dor e uso de muletas são indicados inicialmente. Alongamentos suaves e carga parcial são permitidos quando cessa a dor. Após ganho da mobilidade completa e indolor são iniciados exercícios de fortalecimento.
1.4 – Fraturas:
• Podem ocorrer por traumas diretos em esportes de contato, por traumas torsionais em todos os esportes ou por traumas de alta energia no ciclismo, alpinismo, esqui, motociclismo e automobilismo, entre outros.
• Devem ser avaliadas por especialista (Ortopedista) que indicará o tratamento adequado.
• De maneira geral fraturas articulares, desviadas ou instáveis, demandam tratamento cirúrgico.
• O tempo de reabilitação pode variar de 2 a 6 meses em média.
2- Lesões crônicas:
2.1- Hérnias musculares
• Mais freqüentes na perna que na coxa.
• Podem ocorrer na região de vasos perfurantes ou após trauma com ruptura da fáscia lata.
• Quadro clínico de dor e abaulamento localizados. Hérnias maiores podem ser palpáveis. A dor geralmente é pior aos o treinamento pelo edema muscular.
• Comum em pacientes que apresentam grande hipertrofia muscular
• Medidas para controle do edema devem ser instituídas.
• Em casos de dor não localizada deve-se descartar a possibilidade de síndrome compartimental crônica.
• Casos com dor bem localizada, herniação evidenciavel por exames de imagem e resistentes ao tratamento conservador, respondem bem ao tratamento cirúrgico com fasciotomia (aberta ou endoscópica).
• Não se deve tentar reparar a fáscia, pois o índice de recidiva é alto.
2.2- Síndrome compartimental crônica
• Aumento da pressão em um compartimento osteofascial não pouco complacente, levando a comprometimento da circulação microvascular.
• É uma entidade distinta da síndrome compartimental aguda, que é geralmente secundária a trauma constituindo emergência médica por ser progressiva e evoluir com necrose tecidual, contraturas, deformidade e risco de amputação do membro.
• Ocorre devido ao edema muscular após a atividade física e podem ocorrer aumentos de volume de até 20% (na coxa).
• Acomete ambos os sexos e é bilateral em 80 a 95% dos casos. São mais comuns em esportes que exigem resistência muscular.
• Pode ocorrer nos três compartimentos da coxa
• Dor sobre o compartimento, sintomas neurológicos correspondentes ao nervo que atravessa o compartimento, aumento de volume, câibras e queimação, fraqueza muscular e parestesias são sintomas relatados e geralmente ocorrem após atividade física intensa que melhoram com repouso.
• Exame clínico do paciente em repouso pode ser normal. Por isso deve ser repetido após inicio dos sintomas com os exercícios.
• Medidas da pressão intracompartimental (Método de Whitesides, Wick Cateter e outros métodos) pré e pós-exercício podem confirmar o diagnóstico. Pressões iniciais maiores que 15mmHg ou diferenças maiores que 30 mmHg após 1 minuto da atividade ou 20 mmHg após 5 minutos confirmam o diagnóstico.
• Outros exames complementares são importantes para afastar diagnósticos diferenciais (fraturas por estresse, alterações vasculares, radiculopatia e doenças osteometabólicas).
• Tratamento conservador geralmente só é bem sucedido em atletas que modificam suas atividades
• Na falha de tratamento conservador está indicada a fasciotomia (aberta ou endoscópica) e em casos de recidiva poderá sem realizada a fasciectomia parcial.
2.3 – Fratura por estresse:
• São causadas por carga repetitiva (como em corredores de longa distância e triatletas)
• Acomete o sexo feminino com maior freqüência.
• Pacientes com a tríade da mulher atleta (amenorréia, desordens alimentares e osteoporose) são mais suscetíveis.
• As fraturas por estresse ocorrem no quadril entre 1,25 a 18% dos casos
• Geralmente decorrem de treinamento inadequado
• O quadro de dor insidiosa em ortostatismo ou durante atividades de salto pode evoluir para dor intensa com incapacidade de treinamento.
• Radiografias simples podem não evidenciar a fratura no primeiro momento.
• Cintilografia óssea pode localizar a lesão e a tomografia computadorizada ajuda a definir o traço da fratura e os bordos escleróticos da lesão.
• Fraturas por estresse da diáfise femoral são raras.
• Fratura por estressse do colo femoral podem ser por tensão (face superior) ou compressão (face superior). Fraturas por tensão são instáveis e tendem a evoluir com desvio.
• O tratamento de fraturas desviadas ou instáveis é cirúrgico com fixação interna.
• Fraturas por compressão podem ser manejadas clinicamente com repouso e retirada da carga até melhora da dor e consolidação radiográfica. Casos que não consolidam devem ser operados.
2.4- Pubalgia
• Dor na região púbica com freqüência acomete jogadores de futebol, nadadores e jogadores de hockey.
• Suspeita-se que a tensão da musculatura adutora e do reto abdominal esteja implicada.
• Diagnóstico diferencial inclui hérnias inguinais, infecção e lesão dos músculos adutores.
• Radiografias podem evidenciar reabsorção óssea ou esclerose na sínfise. Cintilografia pode localizar a origem da dor.
• Tratamento clínico com AINH, calor úmido e alongamentos está indicado. O tratamento pode durar até 3 meses e recorrência é ocasional.
• Alguns casos de difícil resolução podem responder ao tratamento cirúrgico (tenotomia dos adutores, desbridamento, entre outros).
b) LESÕES NO QUADRIL EM ATLETAS
• Anatomia complexa do quadril pode tornar a o diagnóstico difícil ou confuso
• Lesões no quadril são menos freqüentes que em outros segmentos dos membros inferiores;
• No entanto, geralmente implicam em longos períodos afastados dos treinos, pois necessitam reabilitação intensiva antes do retorno ao esporte;
• História clínica e esportiva bem colhidas e exame clínico direcionado podem levar ao diagnóstico na maioria dos casos;
• Exames complementares geralmente são capazes de confirmar ou afastar as hipóteses diagnósticas e definem a extensão e o tipo das lesões;
• Devem ser diferenciadas lesões ósseas de lesões em partes moles intra-articulares;
• Além disso, podem ser divididas em lesões intra-articulares e peri-articulares.
• As lesões intra-articulares mais comuns são a síndrome do impacto femoro-acetabular, a lesão do lábio acetabular, a lesão do ligamento redondo e lesões condrais.
• As lesões peri-articulares mais comuns são a síndrome do piriforme, a síndrome dolorosa trocantérica, a síndrome do ressalto (Snapping Hip), a síndrome do glúteo médio e o “Hip Pointer”.
1- Lesões intra-articulares:
1.1- Síndrome do impacto fêmoro-acetabular
• Etiologia desconhecida
• Responsável pela maioria dos casos de artrose anteriormente classificados como idiopáticos
• Predispõe a lesão labial, condral e subseqüente degeneração articular
• Deformidades tipo came (no fêmur), pincer (no acetábulo) ou misto.
• Dor articular, limitação da flexão, adução e rotação interna, sinal do C, sintomas conforme lesões associadas.
• Radiografias são diagnósticas (Sinal do cruzamento, deformidade da cabeça e colo na incidência em perfil de Ducroquet, herniation pit, os acetabulum, sinal da espinha isquiática,…)
• Tomografia computadorizada permite avaliar a versão do acetábulo e deformidades ósseas. Reconstrução tridimensional pode auxiliar no planejamento cirúrgico.
• Ressonância magnética: identifica lesões associadas.
• Artro-ressonância: evidencia melhor as estruturas intra-articulares e permite teste diagnóstico com anestésico.
• Tratamento:
o Controverso na ausência de sintomas;
o Cirúrgico nos pacientes sintomáticos;
o Pode ser realizado por via aberta ou artroscópica
o Em atletas artroscopia é a técnica de escolha (via aberta implica em via de acesso extensa, osteotomia do trocanter maior, osteosíntese, luxação da cabeça femoral, e recuperação mais prolongada.
1.2- Lesão do lábio acetabular
• Indicação mais comum para artroscopia do quadril.
• Cinco causas foram implicadas na gênese dessas lesões: trauma, síndrome do impacto femoro-acetabular, frouxidão ligamentar, displasia e degeneração.
• Forças axiais e torcionais na prática esportiva podem levar a essas lesões (hockey, futebol, golfe, baseball, tênis, entre outros)
• Fraqueza da musculatura adutora do quadril foi observada em atletas com lesão labial
• Em uma série de casos de atletas de elite operados artroscopicamente a lesão da região anterior do lábio foi o diagnóstico mais comum (12/14 casos)
• Diagnóstico: dor inguinal, sinal do C, teste da flexão adução, dor a flexão ativa resistida, intolerância à posição assentada.
• Confirmação diagnóstica:
• Artro-ressonância magnética do quadril localiza a lesão (há casos de falso-negativo!)
• Teste da Marcaína positivo indica afecção intra-articular.
• Tratamento:
o Cirúrgico (a lesão é precursora de degeneração articular)
o Via artroscópica exibe vantagens quanto à menor morbidade e menor tempo para recuperação
o Controvérsia: reparação ou desbridamento.
1.3- Lesão do ligamento redondo
• Terceira indicação mais comum para artroscopia em atletas
• Causas traumáticas são as mais comuns.
• Podem também ocorrer em ligamentos hipertróficos ou com alterações degenerativas
• Geralmente estão associadas a trauma de alta energia (luxações do quadril) e foram relatadas em jogadores de hóquei no gelo, futebol americano e praticantes de esqui.
• Podem ocorrer após entorses menos graves.
• Nenhum tipo específico de mecanismo de trauma foi implicado na gênese da lesão (relatado ruptura após hiperabdução, bem como após flexão + adução + rotação externa, entre outros)
• Na maioria dos casos coexiste com outras lesões intra-articulares e são acompanhados de sintomas mecânicos e dor intensa.
• Alguns pacientes podem queixar-se apenas de dor inguinal.
• Sinais clínicos de acometimento articular estão presentes, mas não há testes específicos
• O diagnóstico é difícil e mesmo com auxilio da RNM a lesão muitas vezes só é identificada na cirurgia.
• O tratamento cirúrgico artroscópico está relacionado com ótimos resultados e consiste no desbridamento das fibras lesadas.
• Retorno as atividades esportivas ocorre após 1 a 3 meses na maioria dos casos
1.4- Lesões condrais
• Na maioria dos casos estão associadas a deformidades pré-existentes (impacto-femoro acetabular, especialmente a deformidade tipo came da cabeça femoral)
• Associadas a lesão do lábio são conhecidas como “watershed lesion” (lesão do divisor-de-águas ou seja, da junção condro-labial do acetábulo)
• Em algumas atletas do sexo feminino observamos lesões tipo “watershed” na ausência de deformidades ósseas identificáveis, trauma ou outras causas conhecidas de lesão labial ou condral.
• Suspeitamos que essas lesões na região anterior do acetábulo podem ser atribuídas ao impacto do tendão do iliopsoas.
• Sintomatologia pode variar conforme a localização da lesão e a formação de corpos livres intra-articulares.
• Dor, bloqueio, falseio e ressaltos podem ser relatados
• Ressonâncias magnéticas podem não evidenciar a lesão em até 40% dos casos.
• O prognóstico depende do tipo da lesão (classificação de Outerbridge), localização (pior na zona de carga do acetábulo e da cabeça femoral) e presença de lesões associadas (corpos livres, lesão de lábio, alterações degenerativas)
• A artroscopia consiste na melhor opção pois:
o Permite o diagnóstico em casos duvidosos;
o Permite a retirada de corpos livres de forma minimamente invasiva;
o Permite o desbridamento das lesões e microfraturas,tratamento das causas subjacentes e das lesões associadas.
• Terapias de reparação da cartilagem estão em investigação (PRP, etc.)
2- Lesões peri-articulares:
2.1- Síndrome do piriforme
• Tríade sintomática: dor na incisura isquiática, sinal de Laségue positivo e melhora com tratamento conservador
• Exame físico: Sinal de Freiberg: dor à rotação interna forçada com o quadril em extensão; sinal de Pace: dor e fraqueza na rotação externa resistida com abdução do quadril
• Pacientes com neuroma de Morton podem desenvolver a síndrome por alteração na marcha, causando pronação do pé e rotação interna do quadril e do joelho
• Causada pela compressão do nervo ciático pelo músculo piriforme na incisura isquiática, pela irritação crônica do músculo ou por alterações anatômicas
• Variação anatômica mais comum: a divisão fibular do nervo ciático atravessa o músculo piriforme
• O diagnóstico é eminentemente clínico. A ENMG mostrando período de latência longo e ondas F atrasadas, com padrão neuro ou miopático, assim como reflexo H presente na posição em FAIR: flexão, adução e rotação interna.Vale ressaltar que a ENMG deve ser dinâmica, onde o paciente deve provocar a dor. A posição mais freqüente para isso é em FAIR
• Atletas podem apresentar com cãibras na nádega com ou sem irradiação
• Tratamento: correção de alterações biomecânicas (discrepâncias, obliqüidade pélvica e alterações do pé e tornozelo e/ou postura)
2.2 – Síndrome dolorosa trocantérica
• Habitualmente atribuída a inflação da bursa trocantérica
• Estudos recentes refutam a causa inflamatória e implicam alterações degenerativas do “manguito rotador do quadril” na gênese dessa síndrome.
• Mulheres com trocanter proeminente ou pelve larga estão mais suscetíveis a essa síndrome.
• Treinamento inadequado pode desencadear a síndrome.
• Corridas em planos lateralmente inclinados (como estradas), se realizada sempre no mesmo sentido (por exemplo contra o fluxo de veículos) implica em tensão aumentada na banda iliotibial do membro do lado baixo da via (no exemplo dado sempre o lado esquerdo) provocando o impacto contra os tendões abdutores.
• Quadro doloroso localizado sobre o trocanter maior e na inserção do tendão conjunto dos glúteos médio e mínimo. Pode haver irradiação para a face lateral da coxa.
• Sinal de Trendelenburg pode estar presentes em casos de tendinose ou ruptura dos abdutores do quadril
• Pode haver ressalto externo do quadril associado ao quadro doloroso.
• Dor a adução passiva com rotação interna do quadril e à abdução ativa, na ausência de ressalto, confirmam o diagnóstico.
• Radiografias podem evidenciar calcificações, mas são mais úteis na exclusão de outros diagnósticos.
• Ultra-sonografia pode evidenciar acúmulo de líquido na bursa trocantérica e o resvalo do trato iliotibial
• Casos refratários a tratamento clínico devem ser submetidos à RNM para investigação de lesões tendinosas no manguito rotador
• Tratamento:
o Conservador na maioria dos casos com AINH, gelo local, repouso, ultrassom,, alongamento do trato iliotibial e fortalecimento muscular.
o Retorno ao esporte ocorre em 6 a 8 semanas devendo adequar o treinamento
o Casos recalcitrantes e resistentes ao tratamento conservador podem melhorar após injeção de corticosteróides locais.
o Várias técnicas cirúrgicas (abertas e artroscópicas) estão disponíveis para casos não responsivos, com resultados variáveis: bursectomia, alongamentos e excisão parcial do trato iliotibial, desbridamento ou reparo de lesões tendinosas.
2.3 – Síndrome do ressalto (Snapping Hip)
• Também conhecido com o coxa saltans, é um sintoma complexo que pode ser audível ou palpável sobre o trocanter maior mas não necessariamente é associado à dor.
• Pode ser medial, causado pelo contato do tendão do músculo ílio-psoas na eminência ílio-pectínea ou pelo contato desse tendão contra a cabeça femoral com alteração do tipo “cam” de impacto fêmoro-acetabular. Atletas mais susceptíveis são os atletas que praticam corridas de longa distância, tênis, natação e futebol. No exame físico, o teste de Thomas pode ser positivo e a manobra para identificar o ressalto é o teste da extensão: o quadril é trazido de uma posição de flexão-abdução e rotação externa para extensão. O ressalto pode ser palpável ou audível na região inguinal.
• Pode ser lateral, causado pelo atrito da banda ílio-tibial contra o trocânter maior.
• Pode ser posterior, com ressalto da cabeça longa do bíceps crural sobre a tuberosidade isquiática
• Pode ser intra-articular, causado por corpos livres ou qualquer causa intra-articular.
• O mais comum é lateral. O estalo pode ser indolor, mais na maioria das vezes é acompanhada por um ponto doloroso acima do grande trocânter, quando o quadril vem da posição de extensão para flexão em pacientes com bursite causada pelo atrito.
• Atletas submetidos à flexão repetitiva do quadril e do joelho estão mais susceptíveis: dançarinos, ciclistas, corredores e surfistas.
• Repouso, alongamento da banda iliotibial e medicações antiinflamatórias não-esteroidais associado a modificações das atividades. Ocasionalmente infiltrações com corticoesteróides na bursa do grande trocanter podem ser utilizadas
• Procedimentos cirúrgicos como a excisão de toda ou parte da banda iliotibial, zetaplastia ou fixação da banda iliotibial para o grande trocanter são decritos com sucesso, porém é importante notar, entretanto, que a cirurgia não substitui a fisioterapia motora e que o alongamento pós operatório da banda IT, deve ser agressivo e consistente.
• No ressalto medial, alongamento do tendão do ílio-psoas ou mesmo a sua tenotomia, que pode ser por via aberta ou artroscópica
2.4 – Síndrome do glúteo médio
• Quadro clínico sobreposto ao da síndrome dolorosa trocantérica
• Esportes que demandam uso excessivo do mecanismo abdutor podem estar relacionados: artes marciais, ciclismo, aeróbica e dança.
• Trauma direto pode desencadear a síndrome.
• Quadro doloroso desencadeado pela atividade esportiva, pode ocorrer nas atividades diárias nas fases mais avançadas.
• Ressonância magnética pode confirmar o diagnóstico (até 14 de lesõrs tendinosas em pacientes com dor lateral na coxa)
• Tratamento essencialmente conservador, semelhante ao da síndrome dolorosa trocantérica.
2.5 – “Hip Pointer”
• Consiste na contusão da crista ilíaca ou do trocanter maior.
• Sintomas variam de moderados a graves
• Ocorre com relativa freqüência no futebol, hokey no gelo, baseball ou qualquer esporte que envolva quedas sobre uma superfície dura.
• Quadro de dor e equimose (hemorragia subcutânea, subperióstea ou intra-muscular)
• Hematomas que não regridem devem ser drenados
• Dor e inchaço progressivos devem alertar para possível lesão arterial ou síndrome compartimental.
• Tratamento inicial: gelo repouso, elevação do membro e compressão. Muletas para alivio da dor. Repouso em posição confortável.
• Início gradual de exercícios para ganho de mobilidade e posteriomente ganho de força.
• Retorno ao esporte após 2 a 8 semanas, dependendo da gravidade.
• Esporte de risco considerar acolchoamento dos uniformes
• Possíveis complicações envolvem: paralisia do nervo cutâneo lateral da coxa, fibrose e encurtamento muscular, bursite crônica, miosite ossificante pós-traumática.
• Tratamento agressivo visa prevenir essas complicações e permitir o retorno precoce ao esporte.
Referências Bibliográficas: